O indivíduo que procura compreender-se e adquirir conhecimentos
sobre a ciência da vida e projetá-los em outro não escolherá a esmo. A atração
espontânea e durável só existe entre dois seres que tenham afinidades, embora
situados em planos diferentes.
O casamento cria entre dois seres não só laços biológicos como
espirituais. Cada cônjuge, sem ferir individualidade e autonomia, forma no
outro, com o acréscimo que lhe oferece, uma pessoa humana completa, com maior
personalidade.
Unir-se a uma pessoa pelo matrimônio é fazer penetrar em si e
nela uma nova forma de sentir, agir e realizar. No ser total, marido e mulher,
surgirão novos hábitos, diferentes reações psicológicas. É uma verdadeira
integração que apresenta maiores ou menores dificuldades, crises e conflitos
parcial ou totalmente superados por um constante esforço e boa vontade. E não é
em pouco tempo e sem paciência e perseverança que se processa a fusão de duas
individualidades. Esse longo esforço de duas pessoas, conservando cada uma
consciência cada vez mais lúcida, é que firma o amor conjugal.
O casamento constitui uma nova e importante experiência da vida.
Mas a vida representa uma série de situações mais ou menos complexas que exigem
dos seres humanos dominação serena e consciente. Conclui-se, então, que o
matrimônio concorre para a evolução do espírito na sua passagem pela Terra.
Individualidade é a maneira pela qual se molda uma experiência,
e os sentidos, embora deficientes, fixam na alma as impressões recebidas, as
quais ficam retidas na memória, integram-se ao ser, dando-lhe a consciência do
que é. Corpo e espírito estão, pois, intimamente ligados do começo ao fim da
existência terrena. E vão passando por transformações, fases de desenvolvimento
até formar a personalidade real e consciente. Somente essa união de corpo e espírito
com uma única consciência é capaz de criar a pessoa humana.
Se a matéria é o reflexo do espírito, a união conjugal se torna
sólida quando existe uma atração em que se ligam indissoluvelmente os elementos
carnal e espiritual. A admiração por uma pessoa virtuosa e inteligente não será
amor se não houver o desejo de unir-se a ela, o prazer que lhe causa olhar o
rosto, ouvir o timbre de sua voz, a forma do corpo e até a sua maneira de
trajar-se. Mas também será impossível a união sem que haja confidências,
oferecimento do que possui cada um de seu íntimo: sensibilidade, pensamento,
vida interior. Havendo apenas exaltação física, os laços matrimoniais serão
frouxos e não impedirão que dois seres voltem à vida solitária. Quem se casa
rompe com a liberdade individual, mas diz adeus à solidão.
Não pode haver momento mais solene e importante na vida que o do
casamento.
A assinatura do ato é uma palavra fecunda, porque representa o
momento em que dois seres se unem para dar vida a um terceiro; é uma palavra
empenhada de duas vidas que se integram para, com nova personalidade, ocupar
importante papel no destino do mundo.
Longe de constituir um passatempo sexual,
sentimental ou social, é o compromisso de um plano para nova forma de vida
humana, constituída de duas individualidades de sexos diferentes.
A partir desse momento, o casal não mais poderá ser encarado
separadamente, não mais se separará, sem graves prejuízos. Conservará um estado
de espírito adulto: vontade de criar, senso de responsabilidade e esforço,
associados à aceitação de sofrimento e sacrifício inevitáveis, mas fecundos.
Conceito de Casamento
Por Olga Brandão Cordeiro de Almeida