;”>Educação não consiste apenas em boas maneiras, é algo mais amplo, mais profundo, porque envolve o desenvolvimento da vontade, os problemas da saúde física, da higiene mental, da formação moral. Olga Brandão de Almeida;

A influência dos pais na vida dos filhos - Por Olga Brandão Cordeiro de Almeida

A criança precisa, para seu desenvolvimento normal, de uma família, mas não de qualquer família. É no seu próprio lar que encontra condições favoráveis para uma vida em começo: ambiente afetivo, resguardado e homogêneo.

O meio afetivo familiar é sua maior força e, por isso mesmo, o menor desequilíbrio na coexistência dos pais causa-lhe sérios transtornos. Tão íntima é essa relação de pais e filhos que até mesmo a neutralidade afetiva entre os cônjuges se faz sentir na conduta da prole.

Mesmo que a criança, numa situação anormal, encontre alguém que lhe substitua a mãe, os fatos reais mostram, claramente, os problemas que surgem com essa condição.

Os desajustes entre o pai e a mãe são um verdadeiro suplício para os filhos, que anseiam pelo amor dos dois, unidos, a seu redor, mas repelem ser amados em separado, embora supondo que a dose de afeição seja a mesma. Falta-lhes, quando falta a estrutura familiar, alguma coisa que constitui o elemento indispensável para o desabrochar de sua personalidade.

Cada cônjuge tem sua contribuição afetiva para a garantia de uma vida tranqüila, que se propõe dar aos filhos.

Implicâncias, brigas, ralhos, encontrados de um modo geral nas relações familiares, não quebram o elo de amor e zelo, que devem unir os membros da família. Muitas vezes até marcam um interesse comum de adaptação de idade e sexos diferentes.

Mas, se no âmbito moral o amor é o aspecto nutritivo da família, não constitui o único, porque a criança, ao lado das necessidades receptivas, tem necessidades ativas: precisa fazer alguma coisa, tentar experiências e, nesse constante arrebatamento, encontra-se muitas vezes em situações perigosas. Mais fraca que os descendentes dos animais irracionais, é incapaz de viver pelos seus próprios meios, necessita de proteção para enfrentar as exigências da vida.

A função da família é amortecer os primeiros choques, e a educação visa interpor-se entre a criança e as reações que seu comportamento pode desencadear. Os pais se excedem nesse mister, colocando um verdadeiro muro de proteção entre o filho e as conseqüências de suas próprias reações. O resultado é dissimularem a realidade da vida não só no terreno material como no social e moral.

Mas, assim mesmo, com todas essas falhas, o pequeno ser encontra na família um refúgio. Tem em casa um lugar que lhe cabe por direito. Aí respira uma atmosfera sadia e não teme ser mandado embora nem abandonado. Esses triunfos lhe proporcionam novas forças para prosseguir nas experiências sem prejuízo de segurança. Seu organismo físico, enquanto se formava, precisou da vida intra-uterina, mas agora o espírito requer proteção da vida familiar, antes de adquirir energias suficientes para enfrentar a sociedade humana.

Além da experiência social, esboça-se no ambiente familiar outra mais difícil e talvez de consequências mais sérias. É justamente a que conduz a criança a uma atitude masculina ou feminina diante da vida. Quando descobre que há dois sexos, deve colocar-se pelo sentimento num dos dois pólos. Procura amoldar-se à conduta dos pais. O comportamento da mãe, a função protetora do pai, são vistos com agrado e entusiasmam-na para as boas iniciativas.

Sendo a criança mutável pela própria fraqueza, necessita da convicção tranqüilizadora da segurança do lar para suportar o peso do mundo que a envolve. Mais tarde, com o decorrer dos anos, vai encarar o lar como um refúgio, não do cárcere onde só há desejo de evasão, mas de um porto onde se sonha regressar em breve escala.

Quando, porém, esse refúgio se desagrega, é que se compreende melhor sua necessidade: a personalidade da criança corre o risco de desconjuntar-se ao mesmo tempo.

Professores e médicos recolhem preciosos documentos de crianças vadias, nervosas, atrevidas, amorais em conseqüência de lares desfeitos.

Infelizmente, a criança é sempre a primeira a perceber a fenda do edifício prestes a ruir e muitas vezes a ameaça da destruição causa-lhe maiores males que a própria catástrofe.

A família é um meio heterogêneo porque oferece diversidade de personagens e por isso representa um pequeno mundo. É diferente, porém, dos meios artificiais criados para os filhos sem lar.

Para construir-se a si própria, a criança tem necessidade de um modelo. Procura identificar-se com os pais que tem sempre sob seus olhos. Mas se é tonificante identificar-se alguém com outrem mais forte, torna-se, pelo contrário, debilitante essa identificação com um mais fraco ou tão fraco quanto a própria pessoa.

Através dos pais (de sexos diferentes) a criança se situa num mundo conforme o sexo a que pertence e em relação ao sexo a que não pertence.

Nem todas as famílias são perfeitas, e, se as imperfeições se refletem através dos filhos, urge que a sensibilidade infantil seja compreendida, não como uma condenação ao meio familiar, mas como prova de sua importância vital.

A influência dos pais na vida dos filhos
Por Olga Brandão Cordeiro de Almeida

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